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Prefeitura de Recife vai pagar R$ 1,6 milhão a projeto com "solução inovadora" a ataques de tubarões

Após aumento de casos no início do ano, governo anunciou investimentos para retomar programas de monitoramento e educação ambiental que foram paralisados

Homem caminha próximo a a tubarão no mar de South Beach, em Miami (Kenny Melendez/Reuters)

Homem caminha próximo a a tubarão no mar de South Beach, em Miami (Kenny Melendez/Reuters)

Agência o Globo
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Publicado em 11 de abril de 2023 às 18h39.

Última atualização em 11 de abril de 2023 às 18h59.

Em meio ao aumento de ataques de tubarão nas praias, o governo de Pernambuco e a prefeitura de Recife anunciaram investimentos para retomar projetos paralisados, como os de monitoramento dos animais e de educação ambiental, e também para criação de soluções inovadoras. No mês que vem, o programa Eita!Recife selecionará a proposta que melhor responder ao desafio "como reduzir, com o uso de tecnologias inovadoras, os riscos de incidentes com tubarão na orla do Recife?".

O vencedor receberá investimentos de R$ 1,6 milhão

Desde 1992, houve 77 ataques de tubarões em Pernambuco, fruto de uma combinação de fatores naturais — a topografia do litoral e a existência de um canal antes dos corais, que favorece a presença de tubarões próximos à costa — e de impactos causados pela urbanização, que afetaram, com o tempo, o ecossistema local.

Após um surto de casos no início dos anos 1990, o governo pernambucano passou a financiar projetos de educação ambiental, de monitoramento da população dos animais e de pesquisa das condições das praias, o que permitiu a identificação de locais de risco e a prevenção aos ataques.

Mas, desde 2014 os projetos foram descontinuados. Neste ano, já houve três ataques nas praias, o que coloca 2023 como o ano com mais casos desde 2006, segundo dados do Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit), do governo estadual. Com isso, as autoridades anunciaram o retorno dos investimentos para ações de pesquisa e prevenção.

A prefeitura do Recife, através da Empresa Municipal de Informática (Emprel), a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação e a Secretaria Executiva de Transformação Digital, lançou, na semana passada, a segunda edição do Ciclo de Inovação Aberta do Recife, que faz parte do Eita!Recife, programa que busca soluções tecnológicas para políticas públicas. O chamamento público foi aberto para atrair projetos que proponham soluções "inteligentes, criativas e sustentáveis", com uso de tecnologias inovadoras, para a redução dos ricos de incidentes com tubarão na orla da cidade.

As inscrições podem ser feitas até o dia 5 de maio, e o projeto vencedor receberá um investimento de R$ 1,6 milhão para seu desenvolvimento. Os candidatos passarão por fases de seleção, até a entrega do Produto Viável Marinho, última etapa do desafio.

Especialista defende retomada de antigos projetos

Enquanto soluções modernas são elaboradas, o governo precisa retomar a antiga metodologia que apresentou bons resultados no passado, afirma Rosangela Lessa, oceanógrafa da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e ex presidente do Cemit. Em março, o governo estadual anunciou um investimento de R$ 2 milhões, o que permitirá a retomada de monitoramento de tubarões, com expedições para marcações, além de 32 ações de educação ambiental.

A maior parte dos recursos, cerca de R$ 1,5 milhão, virá do projeto Megamar, custeado pelo Porto de Suape, para mapeamento da fauna do entorno do complexo portuário, e que agorá será estendido. Os outros R$ 500 mil serão investidos em edital para financiar os estudos para políticas públicas de prevenção e mitigação de incidentes com tubarões e invasão do peixe-leão no litoral de Pernambuco, através da Secretaria de Ciência Tecnologia e Inovação de Pernambuco (Secti/PE), explicou o governo.

"Não é possível imaginar que uma área onde houve tantos incidentes um dia não vai ter mais. A característica da região não vai mudar. Temos de educar os humanos e voltar a ter medidas que tenham sequência e continuidade, para termos resultados que já obtivemos antes", explica Rosangela Lessa, cética quanto a soluções de maior impacto, como aplicação de telas no mar para segregação dos tubarões. "Sou totalmente contra a solução de tela, porque a mortalidade é alta para os tubarões. Tubarões são topo de cadeia alimentar, e qualquer mortalidade excedente vai colocar o ambiente em mais desequilíbrio. Sou a favor de usarmos metodologias conhecidas".

Movimentação dos tubarões na praia

Durante o período em que os projetos de monitoramento e controle da fauna vigoraram, Lessa explica que foi possível entender os movimentos das correntes marítimas, dos tubarões, e assim concluir sobre a rota que fazem através do canal. Os pesquisadores também descobriram que a chegada dos animais à praia não acontece por fome, mas sim porque o canal os leva para as proximidades e, como são bichos curiosos, podem acabar chegando perto da areia.

Por isso, as ações de alerta e educação ambiental são essenciais, diz a especialista. Com a quantidade de informações que já foram levantadas nos últimos anos, é possível informar melhor a população sobre os locais e momentos de risco, como dias de chuva e de maré cheia.

"Já temos estatísticas sobre áreas com mais incidentes, temos condições de aplicar esse conhecimento obtido. Há informações muito importantes que foram geradas, agora precisam de mais estudos para melhorar o conhecimento e dar continuidade", diz Lessa, que acredita que, com a diminuição das ocorrências em anos recentes, o trabalho de conscientização ambiental perdeu fôlego. "A educação ambiental pode voltar a indicar que o problema não acabou. Existia programa amplo em escolas, por exemplo. O assunto era mais discutido e conhecido. E as placas nas praias podem ser mais chamativas".

O governo estadual de Pernambuco acrescentou que, além dos novos investimentos, ações seguem sendo executadas pelo Cemit, como "campanhas de conscientização junto a banhistas e frequentadores da orla do Grande Recife, ampliação do número de postos salva-vidas de sete para 17 e utilização de duas embarcações".

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