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Garman, da Eurasia: Governo Lula não será fácil e Bolsonaro não vai embora

"A tendência é de um Lula dando muitos sinais de moderação e em direção ao centro político. Ele tem um desafio muito duro pela frente.", diz o executivo

Christopher Garman: Diretor-executivo para as Américas do grupo Eurasia, vê o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a partir de 2023 dando sinais de moderação (Germano Lüders/Exame)

Christopher Garman: Diretor-executivo para as Américas do grupo Eurasia, vê o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a partir de 2023 dando sinais de moderação (Germano Lüders/Exame)

LB

Leo Branco

Publicado em 30 de outubro de 2022 às 20h44.

Última atualização em 31 de outubro de 2022 às 07h52.

Diretor-executivo para as Américas do grupo Eurasia, Christopher Garman vê o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a partir de 2023 dando sinais de moderação e fazendo acenos ao centro político. Ao mesmo tempo, Garman vê muitas dificuldades para Lula repetir os mesmos índices de popularidade vistos nos dois primeiros mandatos dele, entre 2003 e 2011. Tudo isso porque o presidente Jair Bolsonaro (PL) e as forças políticas que o apoiam deverão ser o principal nome da oposição. Bolsonaro, inclusive, deverá ser um nome forte para 2026, na visão de Garman.

- Que Lula esperar no governo a partir de 2023?

A tendência é de um Lula dando muitos sinais de moderação e em direção ao centro político. Ele tem um desafio muito duro pela frente. Ele fez promessas eleitorais de aumentar os gastos do governo. Ao mesmo tempo, pega um país com dívida elevada, e um cenário externo piorando. Gerenciar tudo isso não vai ser fácil. Ele vai precisar de um governo com equipe econômica capaz de dar sinais de credibilidade ao mercado e que possa ancorar as expectativas fiscais. Tudo isso ao mesmo tempo em que precisará gerenciar um país dividido por forças políticas muito diferentes. Será, sem dúvida, muito difícil para governar.

- Lula venceu Bolsonaro por pouco mais de 2 milhões de votos. Essa vantagem pequena trará problemas?

Essa relação é espúria. Tem governante que chega ao poder com vantagem enorme e perde tudo. Outros chegam depois de disputas acirradas e mantêm governos estáveis. Não acredito numa relação entre uma coisa e outra. Agora, dificilmente Lula terá os mesmos índices altos de popularidade que teve em outros governos. O teto de popularidade dele agora será bem mais baixo. Não é uma questão relacionada só a ele, mas sim uma tendência dos governos recentes da América Latina, uma região cada vez mais marcada pela polarização política.

- Para onde vão Bolsonaro e o movimento do bolsonarismo no governo Lula?

Não irão embora, certamente. Bolsonaro vai ser a face da oposição e pode chegar daqui a quatro anos concorrendo novamente à Presidência. Um fator que ele precisa tomar cuidado é com a contestação dos resultados das urnas agora. Caso haja violência nas ruas em 2022, TSE poderá cassar a candidatura dele e dificultar a vida dele caso queira voltar à Presidência. Dito isso, entendo que ele não precisará dessa contestação para ser um candidato competitivo daqui para frente. Ele tem uma ligação muito forte com o eleitorado, se coloca com pessoa contra o sistema e é a liderança máxima do bolsonarismo, um movimento que criou raízes na política brasileira.

- Com um bolsonarismo tão presente, o que esperar para governabilidade de Lula?

Lula vive um trilema: ele quer aumentar gasto, mas não quer aumentar a dívida nem a carga tributária. Alguma coisa disso ele vai precisar abrir mão. Ele precisa apostar num ambiente de recuperação da economia em 2023 para aumentar a capacidade de dialogar com Congresso e manter boa aprovação. Para isso, vai ser fundamental para ele conciliar o aumento de gasto que ele quer fazer com premissas fiscais muito bem ancoradas para evitar uma crise de confiança entre os investidores.

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