Brasil

Agenda ambiental de Lula deve avançar apesar dos contratempos, diz Eurasia

Consultoria defende que Ministra Marina Silva não corre risco imediato de perder o cargo

Lula com Marina Silva durante a COP27 (JOSEPH EID/AFP/Getty Images)

Lula com Marina Silva durante a COP27 (JOSEPH EID/AFP/Getty Images)

Beatriz Quesada
Beatriz Quesada

Repórter de Invest

Publicado em 27 de maio de 2023 às 15h29.

Última atualização em 27 de maio de 2023 às 15h33.

O apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à agenda ambiental foi colocado em xeque nesta semana após a ministra do Meio Ambiente e da Mudança do Clima, Marina Silva, ter enfrentado uma série de derrotas no Congresso com apoio de aliados do governo. Ainda assim, a pauta ambiental não perdeu prioridade na gestão Lula, avalia a consultoria Eurasia.

“Os contratempos certamente são um sinal de como o Congresso é sensível aos interesses da bancada agrícola. Mas Lula continua apoiando Marina Silva e segue colocando a pauta ambiental como prioridade em vários ministérios do governo”, afirmaram os analistas da Eurasia em relatório divulgado neste sábado, 27.

O que está em jogo

Marina Silva sofreu três derrotas no Congresso nesta semana, sendo o esvaziamento de seu Ministério o mais simbólico deles. O Congresso aprovou a revisão da Medida Provisória 1.154, que estabelece a estrutura ministerial do governo. Com a mudança, o Ministério do Meio Ambiente perdeu o Cadastro Ambiental Rural (CAR) – plataforma de controle e monitoramento do desmatamento em propriedades rurais – para o Ministério da Gestão. Também perdeu a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) para a pasta do Desenvolvimento Regional.

Já o Ministério dos Povos Indígenas, de Sônia Guajajara, perdeu uma de suas principais atribuições: a política de estabelecimento de novos territórios indígenas, que passou para o Ministério da Justiça. A expectativa é que o governo não atue para derrubar as mudanças e que a MP seja aprovada já na próxima semana. 

 A Câmara também aprovou a MP 1.150, que ameniza as restrições ao desmatamento em áreas preservadas de Mata Atlântica. A casa também aprovou a moção de urgência do PL 490/07, que limita a demarcação de territórios indígenas apenas às áreas ocupadas em 1988 – quando foi promulgada a atual Constituição do Brasil – o que deve dificultar a demarcação de novas áreas.

Quais os riscos para a agenda ambiental

A Eurasia avalia que as derrotas sofridas pela pasta de Marina Silva são “um sinal de que o Congresso será um importante entrave para a agenda ambiental”. Ainda assim, não cabe a comparação de que o governo Lula estaria retrocedendo a erros anteriores, quando não apoiou a ministra em situações-chave.

“Lula aprecia a liderança nacional e internacional de Silva no meio ambiente e dificilmente voltará atrás em suas promessas de campanha. O fato de a agenda ambiental estar inserida como prioridade em múltiplos ministérios, desde o Ministério da Indústria e Comércio, Ministério da Fazenda e Ministério do Planejamento até o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), é um sinal desse compromisso”, destacaram os analistas.

A consultoria espera, inclusive, que o governo proponha uma solução alternativa para manter a ministra como uma “voz influente” mesmo nas questões que foram transferidas do Ministério do Meio Ambiente. Seria parte do jogo de equilíbrio que Lula pretende fazer entre a frente ambiental e as demandas do Congresso. “Tal dinâmica está longe de ser ideal para a agenda ambiental, mas é intrínseca à visão política do Brasil”, afirmaram os analistas.

Além disso, os riscos de retrocesso na redução do desmatamento parecem limitados na visão da Eurasia. Isso porque o poder Executivo segue tendo o controle da maioria das políticas públicas sobre o assunto. Foi feito um aumento de orçamento e de pessoal para enfrentamento da questão, e grande parte das expectativas está no novo Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal, o PPCDAm – uma estratégia que teve resultados expressivos na gestão passada de Lula.

Existe também a expectativa de que o Congresso aprove parte da agenda climática, em especial no que tange a lei para criar o mercado regulado de créditos de carbono do Brasil. Projetos de lei que regulam a energia eólica offshore e o hidrogênio verde também são uma prioridade do governo e provavelmente devem avançar neste ano, projeta a Eurasia.

O grande foco de conflito deve ficar na disputa em relação à exploração na Foz do Rio Amazonas pela Petrobras. A iniciativa recebeu veto do Ibama, e o Ministério de Minas e Energia tem pressionado o governo contra a decisão do Instituto. “Os riscos de novos retrocessos na agenda ambiental – e na coalizão do governo em geral – aumentarão se os ambientalistas forem resolutos sobre o pedido da Petrobras, rejeitando qualquer caminho para um acordo”, avaliou a consultoria.

Veja também

Acompanhe tudo sobre:Meio ambienteMarina SilvaLuiz Inácio Lula da SilvaGoverno LulaCongresso

Mais de Brasil

Onda de calor: Rio registra recordes históricos de temperatura máxima em maio

Senado aprova projeto que prevê plano para conter mudança climática

STJ torna governador do Acre réu por corrupção

Rio Grande do Sul reduz número de cidades em estado de calamidade pública; veja lista

Mais na Exame